Dar um novo início para si mesmo, uma nova chance
:: Bel Cesar ::
Assim que as festas do final de ano terminam, começamos a nos preparar para retornar a nossa rotina diária.
Mas algo dentro de nós ainda nos faz sentir diferentes: afinal, iniciamos um ano novo!
Lama Gangchen Rinpoche nos inspira a levar a sério este sentimento de renovação.
Pois a cada começo temos uma real oportunidade de mudança.
Ele nos lembra que a cada início estamos plantando uma nova semente.
Se a semente for boa, há a chance de crescer.
Se for fraca, mesmo tendo as melhores condições, ela não irá evoluir.
Portanto, segundo ele, ao cuidarmos de nossas primeiras sementes do ano estaremos direcionando o nível energético de nossos próximos doze meses.
Por isso, temos que aproveitar o início de ano para refletir sobre a chance de nos proporcionarmos um novo começo.
Não é óbvio começar.
Devido ao automatismo com que seguimos nossos compromissos diários, pouco reconhecemos nossa capacidade de zerar para dar um novo início.
Zerar a vida é uma decisão consciente, tomada quando resolvemos nos desprender da pesada carga que trazemos do passado.
À medida que nos soltamos da sobrecarga das emoções passadas,
voltamos a nos sentir disponíveis para nós mesmos.
Só quando amadurece em nós a decisão de nos desprendermos, de fato,
do passado é que começamos a nos sentir livres, auto confiantes e capazes de recomeçar.
Lama Gangchen nos incentiva a soltar as mágoas do passado de modo direto, sem lamentos ou delongas.
Ele diz:
Às vezes não é possível pensar no passado pelos mecanismos naturais da memória.
Temos que abandonar estas lembranças para viver o presente e nos dar a oportunidade de um novo futuro.
Caso contrário, estaremos sempre recriando o passado.
Temos que trabalhar para ativar nossas mentes maiores e abandonar as mentes menores.
Mente maior é aquela que está movida pela força de uma atitude mental positiva.
Isto é, que lida com o mundo com abertura, aceitação e gentileza.
Mas, infelizmente, estamos tão habituados a reagir, a desconfiar, a negar, que nem damos conta do quanto emanamos a energia de nossos ressentimentos passados quando nos comunicamos uns com os outros no presente.
Feridos, resistimos ao toque alheio quando negamos sua tentativa de aproximação.
Em geral, evitamos escutar o que os outros têm para nos dizer, pois quando estamos reativos não temos espaço interior para escutá-los.
Parece que já sabemos de antemão o que vamos ouvir e responder.
Dizemos interiormente não antes mesmo do outro se expressar. Afinal, sob a tensão interna, precisamos nos defender tanto dos ataques auto destrutivos que lançamos sobre nós mesmos, quanto da hostilidade externa que reflete a mesma indisposição que o outro sente ao ser pressionado.
O mais curioso é que, na tentativa de dominar o desconhecido,
queremos entender tudo, saber de tudo.
Mas, claro, sem nos envolver.
À medida que tememos ser tocados pelos outros, nos tornamos cada vez mais superficiais e pouco compromissados com a dor alheia.
Por isso, Rinpoche ressalta que é mais importante sentirmos o que ele tem para nos dizer do que entendê-lo.
Ele nos lembra que hoje sofremos da falta do sentimento de compartilhar uma mesma experiência.
Estamos isolados por nossas próprias mágoas.
Com esta atitude defensiva não temos condições de fluir e seguir em frente, muito menos de nos dar uma nova chance!
O que fazer?
O Lama nos dá um bom conselho:
Precisamos aprender a diminuir os problemas e aumentar as coisas boas.
Isso parece impossível, mas é possível.
Buscamos grandes idéias, mas o que precisamos é abrir o coração.

é psicóloga e pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano.
Trabalha com a técnica de EMDR, um método de Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares.
Autora dos livros Viagem Interior ao Tibete, Morrer não se improvisa, O livro das Emoções, Mania de sofrer e recentementetodos pela editora Gaia
Email: